
A influenciadora digital e empresária Virgínia Fonseca, um dos maiores fenômenos da internet brasileira, com dezenas de milhões de seguidores, viu-se no centro de um importante debate nacional ao ser convocada para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, no Senado Federal. Sua participação levantou discussões cruciais sobre o papel dos influenciadores na publicidade de jogos de azar, a responsabilidade sobre o conteúdo divulgado e os impactos dessas plataformas na sociedade.
O Contexto da CPI das Bets e a Convocação de Virgínia
A CPI das Bets foi instaurada no Senado com o objetivo de investigar as operações das empresas de apostas esportivas online, conhecidas como “bets”, que ganharam enorme popularidade no Brasil nos últimos anos. A comissão busca apurar possíveis irregularidades, como manipulação de resultados, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e o impacto social e econômico dessas plataformas, especialmente no que tange ao vício em jogos e ao endividamento dos apostadores. Nesse contexto, a convocação de personalidades com grande alcance digital, como Virgínia Fonseca, tornou-se um ponto central das investigações, visando entender a dinâmica da publicidade desses serviços e a responsabilidade dos influenciadores.

Senado Federal, local de depoimento da CPI das Bets. (Fonte: G1/Agência Senado)
Virgínia foi convocada como testemunha devido aos seus contratos milionários com plataformas de apostas, como a Esportes da Sorte e, posteriormente, a Blaze. Reportagens investigativas, como a publicada pela Revista Piauí, trouxeram à tona detalhes desses acordos, incluindo supostos adiantamentos vultosos e comissões que estariam atreladas às perdas dos apostadores que utilizassem seus links de indicação. A relatora da CPI, senadora Soraya Thronicke, destacou a importância de ouvir a influenciadora para compreender como essas campanhas publicitárias são estruturadas e qual o seu alcance junto ao público, especialmente os mais jovens e vulneráveis.
O Depoimento: Negações, Explicações e Momentos de Tensão
O depoimento de Virgínia Fonseca à CPI das Bets, ocorrido em 13 de maio de 2025, foi acompanhado com grande interesse pela mídia e pelo público, registrando alta audiência na transmissão da TV Senado. Acompanhada de seu marido, o cantor Zé Felipe, a influenciadora chegou ao Senado e, durante mais de três horas, respondeu aos questionamentos dos parlamentares. Amparada por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), Virgínia tinha o direito de permanecer em silêncio em perguntas que pudessem incriminá-la, prerrogativa que utilizou em alguns momentos, especialmente sobre detalhes financeiros de seus contratos.

Registro da chegada de Virgínia Fonseca para o depoimento na CPI. (Fonte: G1/TV Senado)
Durante sua fala, Virgínia negou veementemente a existência da chamada “cláusula da desgraça” em seus contratos, que a remuneraria com base nas perdas dos seguidores. No entanto, admitiu que um de seus contratos previa um bônus de 30% sobre o valor do cachê caso ela “dobrasse os lucros” da casa de apostas, meta que, segundo ela, nunca foi atingida. A influenciadora afirmou seguir as regras do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) e disse fazer alertas sobre os riscos das apostas e a proibição para menores de 18 anos. Ela também se comprometeu a fornecer cópias de seus contratos à CPI, sob sigilo.
Repercussão: Looks, “Selfies” e o Debate sobre Responsabilidade
O depoimento de Virgínia gerou intensa repercussão nas redes sociais e na mídia. Além do conteúdo das declarações, o look escolhido pela influenciadora – um moletom com a estampa de sua filha Maria Flor e um copo Stanley rosa sobre a mesa – também chamou a atenção e foi interpretado por alguns como uma estratégia de imagem. Um momento que viralizou foi quando o senador Cleitinho Azevedo interrompeu a sessão para pedir uma “selfie” com Virgínia, elogiando-a e pedindo que parasse de divulgar bets, o que gerou críticas do presidente da CPI sobre a possibilidade de a sessão se transformar em um “circo”.

Momento em que senador pede “selfie” com a influenciadora durante a sessão da CPI. (Fonte: G1/Reprodução TV Senado)
Após o depoimento, Virgínia rapidamente retomou suas atividades publicitárias nas redes, anunciando descontos em sua marca de cosméticos, WePink, o que também gerou comentários e críticas. A discussão central que emergiu foi sobre a responsabilidade dos influenciadores digitais ao promoverem produtos e serviços, especialmente aqueles com potencial de causar danos financeiros e emocionais, como é o caso das apostas online. Questionada se não se arrependia de suas ações publicitárias, Virgínia afirmou que não se arrepende de nada que fez na vida, pois tudo serviu de ensinamento, e que iria refletir sobre continuar ou não a fazer publicidade de jogos de azar.
O Papel dos Influenciadores e o Futuro da Regulamentação
O caso de Virgínia Fonseca na CPI das Bets ilustra um debate muito maior sobre a regulamentação da publicidade online e a responsabilização dos influenciadores. Com o crescimento exponencial do mercado de apostas esportivas no Brasil, impulsionado em grande parte por campanhas massivas envolvendo celebridades da internet, torna-se urgente discutir os limites éticos e legais dessa prática. A CPI busca, entre outros objetivos, propor medidas para proteger os consumidores, especialmente os mais vulneráveis, e coibir práticas abusivas ou enganosas.

A CPI das Bets levanta o debate sobre a regulamentação e o impacto das apostas online promovidas por influenciadores. (Fonte: Infomoney)
A participação de figuras como Virgínia, com seu enorme poder de alcance e persuasão, coloca em perspectiva a necessidade de maior transparência nos contratos publicitários e de uma comunicação mais clara sobre os riscos associados aos jogos de azar. O desfecho da CPI e as eventuais medidas regulatórias que dela surgirem terão um impacto significativo não apenas no mercado de apostas, mas em todo o ecossistema da publicidade digital e do marketing de influência no Brasil.
Conclusão: Um divisor de águas?
A convocação e o depoimento de Virgínia Fonseca na CPI das Bets representam um momento emblemático na intersecção entre o universo digital dos influenciadores, o crescente mercado de apostas online e a atuação do poder legislativo na busca por regulamentação e proteção ao cidadão. As discussões levantadas transcendem a figura da influenciadora e tocam em questões fundamentais sobre ética, responsabilidade e os limites da publicidade em um ambiente digital cada vez mais presente no cotidiano dos brasileiros. O caso serve como um alerta e um chamado à reflexão para todos os envolvidos: influenciadores, plataformas, órgãos reguladores e, principalmente, o público consumidor.